quinta-feira, 2 de julho de 2009

Confissões de um Qualquer

"Aos meus olhos a morte já não é mais um tormento"

Pode-se dizer que não há mais vida naquele corpo gélido; que já não corre mais o próprio sangue naquelas velhas veias. Um saco de carne e osso sem alma. Só assim para se tornar um imortal. Ao passar das décadas, sempre vejo os humanos se queixarem da morte, da falta de vida nas suas próprias vidas. Egoísmo.
Acompanhei vários mortais e percebi o quanto é efêmero o tempo de vida deles, mesmo sabendo que a concepção de tempo é relativa. Todavia, décadas de existência são o bastante para se ter noção que o tempo não é mais um limite cronológico. Aos meus olhos a morte já não é mais um tormento. A vida, se é que pode chamar isto de vida, essa sim é um tormento. Ver as pessoas degradando-se com o simples toque do vento, com a simples inspiração do oxigênio. Uma lágrima. Ver quem você ama deixando esse mundo.
O amor. Um sentimento tão nobre. Complexo para alguns, simples para outros... Um sentimento, uma força que nasce no limbo racional mas que povoa o irracional; o incompreensível. Rodiada de conceitos e significados ainda permanece sobre nós. Entro em conflito com meu próprio ser a cada gota de sangue que corre nos meus lábios. As madrugadas nunca foram tão frias ao pensar: "Será que essa vida sugada era amada por alguém?". Amor, piedade, respeito à vida...
A concepção de vida ganha significado e valor maior quando analisada de maneira a ter em mente que dentre improbabilidades e ocasionalidades, colisões atômicas e moleculares, teoria do caos, ressônancia eletromagnética, seleção natural... Uma gama de fatores a deriva do acaso que se finaliza naquilo chamado vida. O nascer de um bebê pode ser tão comum no nosso cotidiano. Mas aos meus olhos é um milagre. Um milagre que numa noite qualquer eu tiro com apenas uma mordida. Será que não é eu o Egoísta?
Essas reflexões ainda alegram-me ao iludir com a idéia de um sopro humano ainda existente nesse ser. Porém, minha raiva, meu ódio, minha fúria tornam-se maiores quando vejo aquelas criaturas matarem-se por dinheiro, ganância, poder... Guerras. Meu respeito à vida acaba por aqui. Saboreio cada gota de sangue desses monstros como se fossem as últimas tomadas nessa minha passagem pela Terra. Infelizmente, só assim me sinto livre em ser o que sou.


Fernando Neves; Projetos Aleatórios.

5 comentários:

  1. Me lembra de algo (ontem)...
    Não sei, mas ainda não me cai bem a idéia...
    Mas realmente, andei pensando, o amor é derivado do humano (lembrando do assunto "instinto"), eu penso que pra amar não é só ter coração ou mente ou corpo... e sim, ser humano, ser tudo isso unidos no mesmo espaço ao mesmo tempo. O conceito de amor, se pensar (nas pessoas que já sentiram) provavelmente é fácil, mas além do conceito, não parece complexo? Talvez pareça simples demais, mas se conseguir ver de outra maneira, verá que o simples é complexo. Sei lá, se não de nada vale a teoria que inventei... Se pá, a maneira mais fácil pra se definir o amor é na base da religião, Deus é amor, ponto.
    Ainda tá pra nascer o cara que desvende os mistérios do amor, que saiba não só definir, digo isso pelo fato de estar totalmente ligado (ao meu visto) à razão de viver do ser humano (e quem sabe não só deles) e também ao infinito...
    A cabeça entrou em colapso já, talvez quem sabe, o amor não seja o contrário da razão, pois a razão não entende o amor e vice-versa, mas eles se entendem de algum jeito (nem sempre) parecendo uma espécie de tautologia até...
    Bom vou dormir. Se vira aí.

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  2. Chorei. T_T'
    Caramba, pelo jeito nao posso mais ler esses textos sem derramar uma lagrima.

    Realmente acho que a vida é um tormento...!
    Já nao sei mais o que é viver.... Y__Y
    Ver alguém que se ama, indo "embora" nao é uma coisa facil de se ver.

    Amooor...êe coisa complicada .__. Já nem sei mais se amo. x__x Será que por isso eu tô morta? T_T

    Parabéns! escreve demais! \o/ ~ :**
    Ale

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  3. Muit bom!!! podem dizer o que quiserem deste tipo de texto, mas provavelmente são os que eu mais curto..

    Só gostam do céu aqueles que já passaram pelo inferno..

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  4. Descobri que ainda vivo!!! *-*
    Ale

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  5. Interessante como esse seu post traduz com perfeição - qualidade esta que já me habituei a encontrar em seu blog :D - uma sensação que muitas vezes me assalta quando vejo notícias de tragédias: por mais que apenas uma pessoa tenha morrido em determinado acidente, como será que estão aqueles que a amavam, aqueles para os quais ela era importante?

    Bom, mas tenho de tomar cuidado para não divagar demais, deixo isso pro meu blog XP. Quanto aos "mistérios do amor", faço minhas as palavras do Ikeda, e justamente pelo fato de eles serem insondáveis que vale a pena escrever sobre esse sentimento, e a cada novo texto tenho certeza de maravilhar-me e descobrir facetas desconhecidas (ainda mais tratando-se de um texto seu).

    De qualquer forma, parabéns, que você nunca cesse sua inestimável produção literária para que eu continues podendo exercitar minha massa cinzenta toda vez que lhe visito. Flw, até a próxima!

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